O Rosto de Deus
sobre a obra de Ana Teresa Pereira
maio 20, 2005
maio 09, 2005
As lágrimas das coisas
Íris Murdoch é pretexto para uma bela história de amor
por Helena Barbas
suplemento Actual do jornal Expresso de 14 de Janeiro de 2005
Murdoch e a sua obra desdobram-se em muitos “leitmotives” sobre os quais o texto se vai construindo. Outros são logo dados no primeiro capítulo: “Talvez seja possível amar uma mulher por causa de um livro, de um poema sublinhado, de um filme a preto e branco, de uma casa, do olhar de um homem quando fala dela, da forma como o seu cão a espera. Da reprodução de um Mondrian na parede da sala.” São palavras atribuíveis ao herói, Byrne, um filósofo de Oxford a escrever um livro sobre Íris, que vai sendo seduzido pelos rastos deixados pela sua senhoria ausente – a aristocrata arruinada e pintora Ashley. Os títulos dos livros de Murdoch equivalem-se às frases deles retiradas, metáforas que se transformam em pistas e caracterizações: “Gabriel era uma das muitas personagens de Íris que se identificavam com tudo, que tinham consciência das “lágrimas das coisas”, e por esse motivo sentiam uma dor quase insuportável. “ Aqui a dor é surda. Nasceu das mortes e separações impostas pela vida. Insinua-se através dos objectos, das associações implícitas entre estes e os momentos de felicidade que testemunharam: uma reprodução de Mondrian na parede, uma toalha de quadrados vermelhos na mesa da cozinha. Por esta via tornam-se paradoxais.: são memória de sofrimentos enquanto marcos da ausência, mas a sua existência basta para que se possam reproduzir outros (os mesmos) momentos de felicidade – novos encontros que são sempre reencontros. Byrne é amado por Rose, Ed ama Ashley que amou e foi amada por Tom. O encontro entre Ashley e Byrne vem contaminado pelo passado de ambos, dando-lhe uma continuidade confirmada por afinidades electivas. As personagens decalcam-se umas nas outras, re-colando-se sobre os mesmos espaços, diante dos mesmos objectos. Estes tornam-se adereços de um cenário em que o drama amoroso pode ser reencenado com a mesma intensidade por actores diferentes. A narrativa tece-se assim da acumulação de repetições, até do mesmo acontecimento de várias perspectivas. Elementos que contribuem para o fabrico não de um puzzle, mais de um mosaico bizantino.
maio 06, 2005
O Sentido da Neve #2

maio 05, 2005
O Sentido da Neve
Após sucessivos atrasos, sem explicação por parte da editora, recebi agora a informação, também da parte da editora, de que O livro "O Sentido da Neve" de Ana Teresa Pereira sairá em breve. Esperemos que o breve seja o mesmo para nós e para eles, ou seja um período de tempo curto ou pequeno.
Entretanto deixo aqui uma sugestão para a capa do livro, numa variação sobre o The Magpie, de Claude Monet (o primeiro livro de crónicas tinha na capa um outro quadro de Monet). Não é a capa oficial, apenas uma sugestão minha.
O Amor
Lembrei-me de Dolly e de "A Harpa de Ervas" de Truman Capote ao ler um poema de Rupert Brooke, "The Great Lover", em que ele fala do que amou: a côdea do pão amigo; os arco-íris; o fumo azul e amargo da madeira; as gotas de água aninhadas nas flores frescas; o cheiro bom das roupas velhas; a frescura dos lençóis; a gravidade fria do ferro; as areias firmes; as pedras lavadas pela água do mar; as pegadas no orvalho; o sono; os lugares altos; os carvalhos; as poças de água na erva. Rupert Brooke morreu aos vinte e oito anos. Era um dos poetas preferidos de Iris Murdoch, o que é natural, o universo é o mesmo. O poema termina com as palavras: "say, 'He loved'", o que pode ser um bom epitáfio para ambos. "Ele (ela) amou".
da crónica O Amor, Agosto de 2001, O Ponto de Vista dos Demónios, Relógio D'Água, 2002Um excerto do poema de Rupert Brooke:
These I have loved:
White plates and cups, clean-gleaming,
Ringed with blue lines; and feathery, faery dust;
Wet roofs, beneath the lamp-light; the strong crust
Of friendly bread; and many-tasting food;
Rainbows; and the blue bitter smoke of wood;
And radiant raindrops couching in cool flowers;
And flowers themselves, that sway through sunny hours,
Dreaming of moths that drink them under the moon;
Then, the cool kindliness of sheets, that soon
Smooth away trouble; and the rough male kiss
Of blankets; grainy wood; live hair that is
Shining and free; blue-massing clouds; the keen
Unpassioned beauty of a great machine;
The benison of hot water; furs to touch;
The good smell of old clothes; and other such -
The comfortable smell of friendly fingers,
Hair's fragrance, and the musty reek that lingers
About dead leaves and last year's ferns. . . .
Dear names,
And thousand other throng to me! Royal flames;
Sweet water's dimpling laugh from tap or spring;
Holes in the ground; and voices that do sing;
Voices in laughter, too; and body's pain,
Soon turned to peace; and the deep-panting train;
Firm sands; the little dulling edge of foam
That browns and dwindles as the wave goes home;
And washen stones, gay for an hour; the cold
Graveness of iron; moist black earthen mould;
Sleep; and high places; footprints in the dew;
And oaks; and brown horse-chestnuts, glossy-new;
And new-peeled sticks; and shining pools on grass; -
All these have been my loves.
Completo aqui
maio 03, 2005
O regresso
Um ano depois, e com o tal romance nas livrarias desde Novembro último, sem que se conheçam planos de um novo, pensamos que já era altura de retomar a colaboração. É só uma ideia, para que a pausa não se transforme numa paragem definitiva.
Abril é o mês mais doce, diz a escritora. Maio bem que podia ser o do regresso.
E por falar em regresso, para quando o novo livro de crónicas?